Longe vão os tempos
Em que jogava na calçada
Em que o campo de futebol
Era no meio da estrada
Os tempos em que escrevia
Bilhetes ás raparigas
Em que sentia força para tudo
Para esmagar gigantes e formigas
Os tempos da inocência
Longe eles vão
Esses tempos de irreverência
Esses tempos de paixão
Os tempos de amores eternos
Que duravam uma hora
E dos quais nos recompúnhamos
Numa recuperação sem demora
Os tempos em que amigos
Eram todos os que conhecíamos
E por eles nós lutávamos
E por eles nós vencíamos
Longe vão os tempos
Em que a maior preocupação
Era marcar um golo
Ou ver desenhos animados de acção
Os tempos em que inimigos
Eram uns seres monstruosos
Mas que se tornavam amigos
E passavam a ser amorosos
Tempos em que todos querem
Ser bombeiros ou herói
Onde a ferida no coração
Não sangrava, nem era um dói-dói
Esse tempo de inocência
Que teimamos em deixar
Era o tempo que eu gostava
E gostava de para ele voltar
Dinheiro nada valia
Bastava um papel com um cifrão
Para sermos os mais ricos
Da vila, da cidade ou da nação
Mas porque temos que crescer
E deixar a inocência
E o fazemos a correr
Sem uma única advertência
Ninguém nos advertiu
Quando queríamos crescer
Que o tempo infantil
Era o melhor que iríamos ter.
A noite quente de Verão,
Escondeu na escuridão,
O som do teu chegar
A cor do teu batom,
Escondeu da multidão
O sabor do teu beijar.
Aquele leve vestido,
Mais tarde despido,
As tuas curvas estava a realçar.
A tua cara bonita,
De menina jovenzita,
Que logrou me encantar.
O teu cabelo
Tão liso, tão belo,
Deixou-me a flutuar
Sobre os teus peitos,
Tão delicados e perfeitos,
Eu quis ter lugar
No teu quarto,
O teu belo recanto,
Deixamo-nos embalar.
No teu regaço,
Com algum embaraço,
Eu fui brincar.
Eras tão bela, Flor,
No meu peito provocas-te um ardor
Que alguém teimou em apagar.
Quando no corredor,
Já nós cheios de suor,
Ouvimos alguém caminhar,
Era o teu namorado,
Esse desgraçado,
Que acabava de voltar.
Mais cedo que o normal,
Logo hoje, esse animal,
Tinha que cedo regressar.
Fugi pela janela,
Fui mordido pela tua cadela,
E não pude gritar.
A roupa lá caía,
Enquanto eu corria,
Para me poder abrigar,
Nu, pelado lá ia,
O mais rápido que podia,
Para me tentar agasalhar
Para trás nem olhava
Pois só me importava
Depressa dali bazar
Agora que escrevo,
Estes versos, este enredo,
É que estou a pensar
Sete pontos eu levei
A queca eu não dei
Nessa noite de AZAR….