És como és
Tens o teu Q de especial
Tens os teus encantos
Não te julgues uma pessoa banal
Pensa no que podes fazer
No que podes criar
No que consegues oferecer
Em tudo o que tu desejas amar
Não tenhas medo de viver
Porque tens medo de arriscar
O risco foi feito para se correr
Só assim é que se consegue amar
Do que serve o amor sem risco
Sem medo de se falhar
Do que serve amar sem ter medo
Sem medo contra o que lutar
Tenta viver o teu dia
Como se fosse o ultimo neste lugar
Pois não sabes como passas a noite
Nem sequer se amanhã vais acordar
Não tenhas medo de viver
Corre o risco que tens que correr
Pois no final tu vais ver
Que só assim sabe bem vencer.
Este é um poema que tenta traduzir as conversas de uma familia normal, quando estão juntos.
Morreu a tia Quinhas
Mas tu viste aquele golo?
O gajo deve ser mariquinhas.
Dizem que houve dolo.
A massa está fria
Mas que raio de morte
Aqueles barcos que andam na ria
O gajo veio do norte
Põem a televisão mais alta
Hoje joguei futebol de salão
A minha mãe teve alta
Ao lanche bebi um galão
Que gaja boa ali vai
Eu quero rebuçados
Põem isso direito se não cai
Porra, tenho os cordoes desapertados
O meu chefe anda maluco
Tá calado de uma vez
Aprendi a escrever cuco
Que grande merda ele fez
Dói-me a barriga
Não tens nada que se coma
O João fez-me uma cantiga
Tem um acidente, está em coma
Olha, olha para aquilo
Já tou farto de te ouvir
Sabias que há um delta no Nilo
E o gajo começou a fugir
A gaja é tão boa
Eu não gosto de ervilhas
Eu disse joaninha voa voa
Eu prefiro o país das maravilhas
Tou a falar pró boneco?
Espera, deixa-me ouvir
Apareceu-me em mabeco
Foda-se, o velho começou a tossir
Que coisas o meu patrão tem
Preciso de comprar roupa
Eu na moto a cem
Olha que ela não poupa
Tenho uma coisa a dizer
Já sei, já sei
Olha estas calças para coser
Admito, eu sou gay.
Tu és o quê?
Eu sou gay
És gay porquê?
Aconteceu, não sei.
Filho meu paneleiro
És a desgraça da família
Eu um másculo torneiro
Que tenho um filho que é panila
Pára de chorar
A culpa é tu, mulher
Com a mania de o mimar
Agora abafar a palhinha ele quer.
Mas agora a sério
Eu não sou gay
Precisava era da vossa atenção
Para vos dizer que casei….
A noite escura
O céu estrelado
A tristeza mais dura
Mora aqui ao lado
A cama enorme
No quarto metida
Um animal com fome
A cruzar a avenida
A porta do quarto
Um pouco entreaberta
O espaço habitado
Por uma alma desperta
A frieza no olhar
O corpo despido
A espera não se pode prolongar
Há um manjar para ser comido.
O mundo fecha-se
Sobre o quarto, inquieto,
Numa demonstração de frustração
Não de amor e afecto.
O animal já saciou
O desejo que o possuía
No colchão se prostrou
Enquanto a vitima se esvaía.
Não se esvaía em sangue
Que pouco lhe corre no corpo
Esvaía-se antes
Na falta de conforto.
Não houve um carinho
Um mimo ou um beijo
Não houve amor
Não houve desejo.
O animal sai
Poucas palavras ele diz
O animal lá vai
Agora com um ar feliz.
A presa que possuiu
No quarto prostrada ficou
Sonhou que fugiu
Mas perguntou-se “para onde vou?”
Regressa a casa satisfeito
O animal saciado
Que o seu maior defeito
É pensar que a usou sem pecado.
A noite não passa
O relógio não anda
A presa ressaca
E não vai a nenhuma banda.
O dia nasceu
O sol está a brilhar
E com ele morreu
Mais um conto de arrepiar.
Procura um bom lugar
Para me veres passar
Não esperes que em ti alguém vá reparar
Porque serei eu que irei brilhar.
Espera que eu embarque
Nesta minha nova viagem
Para depois poderes chorar
Se tiveres vontade e coragem.
Quando me vires descer
Quando me perderes de vista
Não me queiras seguir a correr
Tenta seguir a tua vida.
Não te sintas triste
Por deixares de me ver
Procura a minha mãe
Diz-lhe que nunca a quis ver sofrer
É a viagem que escolhi
A viagem que sabia que ia fazer
Tenta pelo menos ser tu feliz
Pelo menos agora que me viste morrer.