Esta é a história da pianista
Que tocava no bar da minha rua.
Esta é a história do pianista
Mas podia ser também a tua.
Lembro-me dos temas que tocava
No piano que no bar havia
Estava sempre a espera quando começava
E só quando acabava me ia.
Os dedos dela bailavam
Pelas teclas brancas e negras
Um som belo gritavam
Um som belo sem regras.
O som era livre como um pássaro
Que esvoaça pelo céu
Nos meus ouvidos entrava
O som que era só seu.
Lembro-me do seu lindo cabelo
Castanho, encantador.
Lembro-me dos seus lindos olhos
Verdes, como o jardim em redor.
As noites podiam ser frias
Ou mesmo quentes no verão
Mas eram sempre lindas melodias
Que saiam da sua mão.
Lembro-me de imaginar
Ao ouvir tamanha beleza
Eu sozinho a caminhar
Sobre as nuvens com leveza.
Nunca me satisfazia
Nem nunca me enjoava
Toda aquela melodia
Que o piano dela me dava.
Um dia ela não apareceu
E o tempo teimava em não passar
Mas no lugar que era só seu
Um homem ousou-se sentar.
Mas a musica não era a mesma
Não era tão cintilante
Faltava a musica dela
Faltava o seu semblante.
O tempo foi passando
Nunca mais por ali passou
Nunca mais o bar foi o mesmo
Nunca mais, da mesma maneira aquele piano soou.
Deixei de lá entrar
Porque muita era a tristeza
A saudade ocupava o meu coração
Saudade da sua musica e beleza.
Um dia ia eu a passar
Para me refugiar no meu quarto
Quando ouvi novamente soar
Aquela musica, da qual não me farto.
Entrei, seguindo o coração
Que com velocidade batia
Segui por entre a multidão
Procurei mas não a via.
O piano não estava
No sitio que devia estar
Mas o som continua
Por mim a chamar.
Vi-a resplandecente
No outro lado do bar
Aquele aspecto reluzente
Fez o meu coração parar.
Cheguei-me ao pé dela
Para a ver e ouvir melhor
Não que eu precisasse de revê-la
Pois eu conhecia o seu aspecto de cor.
Mas as feições eram tão diferentes
O cabelo não era seu
O aspecto um pouco deprimente
Muito parecido com o meu.
Perguntei que era feito dela
Que tinha saudades de a ouvir tocar
Se ela tinha regressado
Se ela voltava para todas as noites tocar.
Foi então que lhe correu
Rosto abaixo sem hesitar
Uma lágrima cristalina
Uma lágrima de azar.
Disse-me que me via todas as noites
Que ali actuava
Que nunca teve coragem
Para me perguntar como me chamava
Que tinha uma atracção por mim
Tal como eu por ela
Mas que estava a chegar o seu fim
A barca já esperava por ela.
Esta era a ultima vez
Que iria actuar
Ia deixar os palcos de vez
Para outro lado ia morar.
Mas que saudade me invadiu
O coração naquele momento
Foi ali que tudo ruiu
Foi ali que começou o meu tormento.
Perguntei se era casada
Ou se tinha namorado
Respondeu-me que era solteira
Que ele a tinha deixado.
Num ataque de amor
Pedi-a em casamento
Um sorriso, misturado com dor
Disse sim, com contentamento.
Mas alertou-me que não teria
Muito mais tempo neste mundo
Que um cancro a iria
Levar para bem fundo.
Não me importei com isso
E dois dias depois
Assumi o compromisso
Assumi que agora éramos dois.
Foram os 6 meses
Mais felizes da minha vida
E eu que podia ter pedido tantas vezes
Para ela ser a minha querida.
Tenho saudades desses tempos
Não só quando com ela vivi
Mas dos tempos dos concertos
Que eram maravilhosos, e eu ouvi
Hoje também os oiço
Não da mesma forma
Mas sempre que os recordo
A alegria ao meu coração torna
Hoje quando estou triste
E de tudo quero desistir
Lembro-me dos tempos dos concertos
Sinto a tristeza a sair
A pianista do bar da esquina
Partiu para nunca mais voltar
Mas a musica que ela tocava
No meu coração não parará de soar.
. ADEUS
. PORTUGAL
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. Beijo