As palavras que proferiste
Foram duras e aguçadas
Foi com elas que me feriste
Logo após serem arremessadas
As palavras não voltam mais
Depois de as dizeres
Ficam marcadas nos anais
Descrevem ódios e prazeres
As que ontem proferiste
Denotavam mágoa e amargura
Tu estavas de espada em riste
Tu eras uma guerreira dura
Não tinhas razão
Para me magoares daquela maneira
De ferires o meu coração
De o deixares com farpas de madeira
Eu sei que tu erraste
E tu hoje sabes também
Aquilo foi um desastre
Foi algo que não te ficou bem
O teu orgulho não permite
Que me voltes a falar
Nem movido com dinamite
Esse orgulho eu iria derrubar
Tenho pena que assim seja
Que te deixes influenciar
Por alguém que te inveja
E que finge te querer ajudar
Sabes onde estou
A lamber as feridas
De lá sair não vou
Não desperdices mais oportunidades das nossas vidas….
Procurei um lugar
Procurei um país
Procurei trabalhar
Procurei ser feliz
Saí da minha terra
Deixei tudo ficar lá
Parti para uma nova guerra
Parti com uma mente sã
O tempo foi passando
E eu forte fui ficando
O trabalho foi andando
E a saudade apertando
Tudo o que abandonei
Tudo o que para trás deixei
Ema mais forte do que o que conquistei
Era maior do que o que arrecadei
Neguei tudo isto
Não podia ser fraco
Dizia se feliz
Mas de mentir estou farto
Faz-me falta o meu pai
A minha mãe e o meu irmão
Da minha cabeça nunca sai
Que até hoje os abandonei em vão
Pouco ou nada consegui
Pouco ou nada conquistei
Tudo aquilo que aqui vivi
Até isso detestei
Ganhei várias batalhas
Mas a guerra ainda não acabou
Cometi muitas falhas
E abandona-los foi onde tudo começou
A imensidão do meu quarto
Que não é meu de verdade
É um quarto alugado
Nem nele estou à vontade
Mas nessa imensidão
Quando as luzes se apagam
As saudades e a solidão
Parece que por mim se propagam
Quantas vezes eu chorei
Agarrado à travesseira
Quantas noites em claro passei
Por não ter a minha mãe à beira
Quantas vezes quis desistir
E voltar ao meu lugar
Ou pensei em construir
Nesta terra o meu lar
Mas como posso eu
Um pobre de Deus
Conseguir um lar meu
Se no banco me perguntam “tem bens seus?”
Que posso eu responder
Eu nada tenho
Que poderia eu fazer
Penhorar o meu engenho?
Desde cedo que eu tento
Fazer algo em que seja feliz
Mas desde cedo que não tenho
Coragem para fazer o que sempre quis
Sonhei se arquitecto
Mas não me deixaram mudar de escola
Não por falta de afecto
Mas por falta de “bola”
Decidi abandonar
O desporto em que diziam ser bom
Para fazer sem pensar
O desporto do meu irmão
O andebol ficou
E no Judo tento singrar
Não porque não goste de andebol
Mas porque o meu irmão quero “animar”
Hoje percorro tapetes
Sem muita convicção
Num desporto que eu faço
Mas não por paixão
Paixão eu tenho ao meu irmão
À minha mãe e ao meu pai
Hoje nada mais faço por paixão
Hoje por paixão nada me sai
Tenho saudades de tudo
Quando era feliz
Quando o meu mundo
Era um mundo petiz
Abandonei a família
O Jorge e a Adília
Abandonei o meu irmão
David o campeão
Hoje nada tenho
E no buraco me afundo
Choro baba e ranho
Procuro o meu mundo
Quero um mundo só meu
Quero ter algo meu
Mas nem com o que ganho ainda deu
Para criar o mundo meu
Eu não posso almoçar
Nem sequer jantar
Na casa da mama
Para poder poupar
Trabalho tudo o que posso
Para ver se junto algum
Mas quando olho para o bolso
Vejo o bolso em jejum
Há quem tenha sorte
E ainda bem que é assim
Mas porque foge a sorte?
Porque foge a sorte de mim?
Tenho saudades
Tenho vergonha
Tenho vontades
Mas devo ter “pessonha”
Gostava de ter a ajuda
Que felizmente o meu irmão tem
Mas decidi abandona-los
E cá acabo por não ter ninguém
No entanto agradeço
A família que Deus me deu
Aos amigos que fiz
A força que cada um me deu
Tenho que lutar
Nesta guerra que estou a perder
Para pouco a pouco conquistar
Para pouco a pouco vencer.