Voltei a ter medo
Voltei a ter frio
Voltei a levantar-me cedo
Voltei a dormir na margem do rio
A ânsia de me libertar
Das dores que tenho na alma
Fazem-me voltar a tombar
Fazem-me perder a calma
O desejo de me limpar
Das manchas que carrego comigo
Fazem-me fraquejar
E voltar a ser mendigo
A vergonha que sinto
Quando na rua vou a passar
Olha que não minto
Quando digo que me desejo matar
Os dedos que me apontam
Os nomes que me chamam
Com a realidade me confrontam
Mas lentamente me matam
Tenho problemas reais
Tenho vergonha de os ter
Não são problemas banais
São problemas em viver
Como o carro usa gasolina
Eu uso vinho carrascão
Há quem use adrenalina
Mas já não me acelera o coração
Já não penso
Já não durmo
Eu dispenso
Quase tudo o que consumo
Mas o vinho que bebo
Para fugir deste lugar
É o meu mais real enredo
Para me conseguir matar
Porque sei que lentamente
Eu irei morrendo
Desta forma deprimente
Vou do mundo correndo
Hoje tornei a acordar
Debaixo da ponte
E mais uma vez me tentei lavar
Na água gélida da fonte
Já não sei o que é comer
Ou o que é viver
Porque só sei beber
E sinto que estou a morrer
Este desejo em mim
De consumir sem parar
Vai ditar o meu fim
Mas agora já não há volta a dar
Espero que ninguém
Sofra o que eu sofri
Sentir o dedo de alguém
Dizendo “olha aquele ali”
Embalado nos teus braços
Aprendi o que é a tranquilidade
Aprendi com os teus abraços
O significado de amizade
O que tu lutas-te
Fez crescer dentro de mim
A imagem que crias-te
O desejo de vencer no fim
As vezes que tiras-te
A comida do teu prato
E no meu colocas-te
Para eu me poder sentir farto
O esforço que fizeste
Para eu poder estudar
A melhor educação me deste
Por me ensinares o que é amar
A dor que te vi passar
As vezes que comida não havia
Que algo terias que arranjar
Para calar a minha barriga
As explicações que me davas,
Com lágrimas no olhar,
Para as coisas caras
Que não me podias comprar
As vezes que passas-te
Comigo no hospital
As horas que teimas-te
A lutar comigo contra o “mal”
Hoje sei o que digo
Quando digo que um anjo já vi
Porque eu trago comigo
Que esse anjo o vi em ti
A bondade com que me tratas-te
O carinho que me deste
A força com que lutas-te
Nesta vida tão agreste
Obrigado senhor
Por me dares uma mãe assim
Pois de tudo em meu redor
Ela é o que mais vale para mim
Obrigada querida mãe
Por tudo o que por mim lutas-te
Pois eu sei que no final
No final tu triunfas-te
OBRIGADO
Estou farto
Estou triste
Toda a gente me olha
Com a espada em riste
Porque me julgam culpado
Por tudo, mesmo o que não fiz
Eu não passo de um pobre coitado
De um pobre infeliz
Todas as culpas sem dono
A mim são atribuídas
Sou um rei Mono
E só queira ser um rei Midas
Sou a África em pessoa
Com as costas quentes
Com terra boa
Mas governantes dementes
O meu corpo é fértil
Para as culpas que me querem dar
Mas o meu cérebro estéril
Para as refutar
Estou cansado de dizer
A toda a gente e mais alguém
Que se vão foder
Que com as culpas eu aguento bem.
Gostava de poder desaparecer
Sem fazer sofrer ninguém
Mas ter a oportunidade de os ver
Lá no alto, no além
Era a melhor solução
Para muitos dos meus males
Partir sem anunciação
Partir como o rio entre os vales
Deixar ficar cá
As pessoas que amo
Para não sofrerem mais
Para não sofrerem mais nenhum dano
Gostava de partir
Para o céu ou para o inferno
Sem ninguém a ver-me sumir
Numa manhã fria de Inverno
Que ninguém sentisse a minha falta
Que ninguém chorasse por mim
Que ninguém me recordasse
Que ninguém sofresse por mim
Eu sei que os levaria
Sempre junto ao coração
E lá do alto os veria
E lhes acenaria com a mão
O que faço eu por cá
Perdido neste mundo cão
Rogo a Deus e a Ala
Que me dêem a salvação
Gostava de alegrar
O dia dos meus inimigos
Para velos no funeral a falar
A dizerem que éramos amigos
Porque só quando se morre
Até o pior vilão
É um anjo que ali dorme
E que merece a salvação
Mas eu só queria desaparecer
Sem deixar rastos ou mágoa
Que ninguém me volta-se a ver
Com esta triste dor
Quero desaparecer
Deixar quem mais amo
Para não os fazer sofrer
E não lhes causar mais dano
Ontem foi o meu Natal
Fazia anos que tinha nascido
Mas o dia corria mal
Não era nada do que havia querido
A manhã estava tristonha
O meu coração a chorar
A saudade era tamanha
Da família que só sei amar.
Fui enganado por todos
Porque diziam não poder vir
E o dia dos meus anos
Estava quase, quase a ruir
Custou tanto a passar
O dia do meu Natal
Só o queria ver terminar
Já me estava a sentir mal
Mas como é bom ter
Duas famílias para nos ajudar
Porque sem eu saber
As duas famílias acabaram por se juntar
Houve alguém que tratou
De chamar quem me faltava
E a sua família ajudou
A preparar-me a cilada
O desgosto de não ter
Ao pé de mim, mãe, pai e irmão
Fez que eu demonstrasse ser
Um grande, grande morcão.
Apercebi-me da festa
Que era surpresa para mim
Mas fui mais que uma besta
Porque fiquei fora de mim
Por não saber que era quem eu queria
Pensei serem só os amigos
E se fossem seria uma alegria
Mas não a maior entre os vivos
Por ter sido enganado
Tentei com a borbonhoca falar
Mas eu não era o único stressado
E tudo acabou por desabar
Quando entrei na sala
Da casa da minha segunda família
Estavam sentados no sofá
O David, o Jorge, a Carla e a Adília
Era quem eu desejava
Ter como companhia
E o raio da cilada
Tinha-me trazido a alegria
Foi o melhor presente
Que me podiam dar
Estar com quem mais amo
Nos meus anos ao jantar
Trabalharam muito para mim
Para me verem feliz
À muito que não me sentia assim
Um verdadeiro petiz.
Obrigado pelo que fizeram
Obrigado pelo que me alegraram
Obrigado pelo presente que me deram
Obrigado porque me mimaram.
Como é bom ter
Duas famílias para amar
Eu, feliz, só posso ser
Por ter estas duas famílias de encantar
Este poema é dedicado à Catarina que tão bem me enganou e que teve a canseira de me aturar e de programar tudo.
È dedicado ao Sr. José Pereira e à dona Carminda, que abdicaram do seu tempo e tiveram o trabalho e a canseira de preparar o jantar e toda a festa.
Aos meus pais, que apesar de estarem “longe”, estão sempre comigo e fizeram quilómetros para festejar o aniversário do filho que mais trabalho e dores de cabeça lhes deu.
Ao meu irmão e á minha cunhada, que depois de um dia extenuante de trabalho se fizeram á estrada para estarem junto de mim e para que os meus pais também pudessem estar.
A todos eles o meu muito obrigado, por me darem o melhor aniversario que podia ter.
Vocês são a maior riqueza que tenho, e com vocês sou o homem mais rico do mundo.
OBRIGADO
Chamem os palhaços
Cantores e malabaristas
Recebam-nos com abraços
Chamem também os fadistas
Chamem actores e actrizes
Pobres e ricos
Padres e meretrizes
Com olhos redondos ou em bicos
Lancem foguetes e tiros para o ar
Bebam champanhe e vinho do Porto
Porque hoje eu vou a enterrar
Porque hoje eu sou um ser morto
Não quero lágrimas de ninguém
Nem sequer lamentos
Quero festa e sorrisos
Quero que espantem os tormentos
Quero toda a gente a dançar
Quero todos a sorrir
Quero ouvir-vos a cantar
Quando eu estiver a ir
Chamem os palhaços para vos animar
Não quero ninguém a chorar
Chamem proxenetas e meretrizes para vos contentar
Se só assim me conseguirem olvidar
Mas quero festa, romaria
Baile, alegria
Rizadas e brincadeiras
Em vez das habituais choradeiras
Riam porque hoje eu morri
Porque me estão a enterrar
Riam porque até hoje vivi
E riam, para que eu não vos veja a chorar.
Este fim-de-semana vou morrer
Vou parar de ler
Vou parar de comer
Vou chorar por viver
Vou ficar deitado
Sem pensar em me levantar
Vou ser um ser inanimado
Vou ficar a pasmar
Vou desligar a televisão
Fechar janelas e reposteiros
Vou ficar na escuridão
Sem sequer luz nos candeeiros
Vou comer comida de plástico
Beber sumos e cerveja
Sei que alguns acham isto fantástico
E outros estão com inveja
Vou morrer para o mundo
Por breves momentos
Este mundo imundo
Este mundo dos meus tormentos
Vou procurar morrer
Na solidão do quarto
E se alguém quiser ver
Não espere grande aparato
Prometo não culpar ninguém
Pela morte a que me proponho
Porque a morte que aí vem
É a minha morte de sonho.
Lá fora a neve cai
Gelando tudo o que há
Cá dentro ninguém sai
Estamos prostrados no sofá
A lareira está acesa
A televisão num canal qualquer
E em cima da mesa
Estão as chávenas e uma colher
Protegidos pelo cobertor
Abraçados e calados
Nada notamos em nosso redor
Estamos tão aconchegados
O abraço que te dou
Tem carinho e satisfação
Mas também te dou
Um convite para o colchão
As minhas mãos já percorrem
O teu corpo sob o pijama
Os teus fluidos colhem
E convidam-te para a cama
Mas a roupa vai saindo
Sem te destapares
O desejo vai subindo
Mesmo antes de me beijares
A beleza dos teus beijos
O ardor do teu amor
São os meus mais doces desejos
São o mundo em meu redor
As carícias vão sendo trocadas
Os corpos vão-se unindo
Numa dança de aves raras
O clímax vai surgindo…
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. Beijo