Plantei uma árvore
Tive rebentos
Escrevi um livro
Venci tormentos
Agora já posso
A ser Homem, aspirar
Pelo menos um pigmeu
Mas ainda tenho provas para dar
Já fiz tudo isto
Homem, por idade, até sou
Conheço o caminho percorrido
Mas não sei para onde vou.
Agora espero passar
No teste da honradez
Onde só o Homem passa
E onde Homem Deus se fez
Não sei quando serei
Chamado para o fazer
Mas sei que serei
Espero que seja antes de morrer.
Naquela estrada
Que termina no pecado
Sem hora marcada
O prazer é achado
Bem lá no meio
Entre duas curvas redentoras
Podes estar certo
Vão lá estar várias Senhoras.
Vais encontrar o que queres
No meio da escuridão
Cais terminar, se quiseres,
Com horas de solidão
Aproxima-te com cuidado
Se não quiseres que te vejam
Porque na rua do pecado
De certeza que te invejam
Procura a Madalena
A maior das putas
Aquela puta plena
A senhora de todas as putas
Ela vai-te dizer
Quem mais te agradará
Não vais precisar escolher
Ela por ti escolherá
Vais ter uma noite
Tão cinco estrelas
Vais levar um açoite
Se não fores bom para elas
Naquela estrada
Por detrás da padaria
Vai lá ter pela escada
Vais lá ter mordomia
Desde o pedinte ao advogado
Todos lá já passaram
Todos procuraram o pecado
E todos lá regressaram
A estrada do pecado
Da luxúria e do prazer
Não vai dar a nenhum lado
Só lá passa quem quiser.
Doze anos me prendeste
E em ti quase vivi
Doze anos me retiveste
E hoje muita falta sinto de ti
Foram tempos de paixão
Foram tempos de nervosismo
Foram tempos de diversão
Foram tempos de cinismo
Odiada por quem te frequenta
Venerada por quem por ti passou
Toda a gente te enfrenta
Mas nem toda te superou
Aprisionas sem correntes
Educas e ensinas
Alguns tornas deprimentes
A alguns escreves as suas sinas.
Deixas saudades
Deixas tristezas
Mas dizendo as verdades
Vais nos dando as certezas
Poucos de ti gostam
Muitos mais te odeiam
A matemática detestam
E os professores não veneram
Evoluiste lentamente
Para melhor ou pior
Mas moldas-te certamente
As pessoas em teu redor
Escola que me serviste
E de ti me servi eu
A mim permitiste
Construir o homem que sou eu
Aprendi a ler
A somar e subtrair
Ciências naturais
Multiplicar e dividir
Só depois de te abandonar
Depois de me despedir
É que valor te estou a dar
É que começa a saudade a surgir
Tivemos tempos de amor
Tivemos tempos de loucura
Tivemos tempos de dor
Mas para mim não foste dura
Obrigada velha escola
Amada e odiada
Astuta e tola
Mas agora por mim recordada.
Chegou a minha hora
Vou ter que partir
A boleia não demora
Quero ver-te sorrir
Hoje ao partir
No teu rosto quero ver
Um belo sorriso
Para sempre o poder ter
Não quero lágrimas
No meu funeral
Porque as lágrimas
São uma coisa já banal
Quero risadas
Quero sorrisos alegres
Não quero mágoas passadas
Quero partir leve.
Não quero ser culpado
Por um momento de tristeza
Não quero ser recordado
Como um momento de avareza
Sorri, cantai e gritai
Quero ouvir-vos lá no alto
Dançai, pulai, brincai
Porque eu finalmente parto
Durante a minha vida
Fiz coisas que até atormentam Satanás
Coisas em prol da vida
Não coisas más
Povoei a Terra
Deixei a minha semente
Mas que ser humano não erra?
Eu fui um pai ausente
Amei uma mulher
Uma mulher de cada vez
Pois para mim a mulher
Foi a obra-prima que Deus fez
Adorei de verdade
Uma mulher na minha vida
Era um poço de bondade
Era a minha mãe querida
Adorei o meu pai
O meu irmão e irmã
Da cabeça não me sai
Como éramos uma família sã
Adorei os meus filhos
Sobrinhos e afilhados
Mas todos eles, coitadinhos
Por vezes por mim foram desprezados
Nasci em Portugal
Fui pai em Paris
Em Havana tive mal
Porque lá tentei ser feliz
Eu tive todas as mulheres
Com que podia sonhar
Mas nem todas afinal
Eu tive capacidade para amar.
Brinquei em criança
Corri em adulto
De todo fugi
Para conseguir o indulto
Fui um grande ladrão
Durante a minha vida
Não roubei ouro, não
Mas roubei a beleza bendita
Roubei corações
Destruí casamentos
Apaguei certidões
Sem pedir consentimentos
Fugi aos impostos
Deixei contas por pagar
Tive preso por amarras
Mas da droga me consegui libertar
Hoje tenho vergonha
De coisas que fiz
Mas muita mais vergonha
Daquilo que não fiz
Tive falta de coragem
De te pedir em casamento
É agora uma tatuagem
Na minha alma, o arrependimento
Agora vou partir
Já chegou a caravela
Quero ver-te sorrir
Quero um sorriso nessa CARA BELA
Do que tens vergonha?
Do que te escondes?
Tu não tens peçonha
Que inquine a agua das fontes
Tens vergonha
De seres criança
De acreditares na cegonha
De teres esperança?
Escondes-te de quem?
Dos que se julgam campeões
Do que tudo tem
Dos que ganharam o euromilhões?
Tens vergonha de quê?
De dizeres que és pobre
De ninguém te tratar por você
De não teres apelido nobre?
Queres-te esconder?
Por andares a pé
Por não saberes correr
Por teres que ir a pé ai cais do Sodré?
O que te envergonha?
O seres prostituta
O teres que engolires langonha
Mas mesmo assim seguires na luta?
Queres-te esconder?
Das que te criticam
Daquelas que dizem só saberes foder
Mas das quais os maridos de ti não abdicam?
Não te envergonhas, MARIAS
Tu tens o teu grande valor
Tenho pena que não te rias
Das tristezas em teu redor
Porque escondida em ti
Existe a força maior
Da qual ninguém se ri
Porque esse riso lhes causaria dor
Porque tu lutas bravamente
Para poderes sobreviver
Há quem diga não ser decente
A tua forma de viver.
Mas tu trabalhas e ganhas
O pão que o diabo amassa
Enquanto muitos outros
Lambem botas para ganhar mais massa
Tu és fiel a ti
E não tens rendimento garantido
Sabes que abusam de ti
Desse teu corpo destemido
És a puta que esta ao ataque
Á defesa e a centro campista
Mas não muitos homens de fraque
Que te seguem a pista
Porque o que não tem em casa
Em ti procuram
Depois dizem que és devassa
E ás esposas amor eterno juram.
Sentado no areal
Olho o horizonte
A aragem normal
Parece correr para o monte
O mar expira
Na minha direcção
E isso inspira
O meu pobre coração
Ao longe vejo alguém
Sapatos na mão
Na minha direcção vem
Já se alegra o meu coração
O seu cabelo a flutuar
Ao sabor da aragem
Parecem acenar
Parecem uma miragem
O sol lá do alto
A testemunhar o momento
Parece que dá um salto
Para iluminar mais o momento
Sentada a meu lado
Olha também o horizonte
Num triste e mudo fado
Calada se queda a minha fonte
Eu olho o areal
Brinco com a areia
O tempo não é estival
Mas sim tempo de lareira
Olhas para mim
Eu peço-te perdão
A tua cabeça diz sim
E pegas na minha mão
Dizes que algo que te dei
Agora cresce no teu interior
Estupefacto fiquei
A minha volta tudo é calor
O que procurávamos
Lá conseguimos alcançar
E um momento de amor
Um bebé nos ia dar
Saltamos, gritamos, beijamos,
Oramos, choramos, sorrimos
Brincamos, corremos e andamos
E como antes, durante anos nos amamos
Obrigado
Ninguém gosta de perder
Seja no que for
Porque perder é sofrer
Perder provoca dor
Todos queríamos vencer
Em tudo o que fazemos
Todos nós nos negamos a perder
Mesmo quando somos pequenos.
Queríamos ser como a Telma
A projectar adversárias
Ter a sua força e alma
Na nossa vida, tão necessárias.
Queríamos ser como o Nelson Évora
E ir de salto em salto
Para ganhar cada guerra
Para chegar bem alto
Gostaríamos de ser como a Naide Gomes
Para de um salto só
Acabarmos com tantos nomes
Que só nos dão dó.
Ter a pontaria da Ticha Penicheiro
Para encestar as tristezas
Driblar com engenho
E arrecadar certezas
Talvez ser o Nuno Delgado
Ser-se bom no que se faz
Ter a força dele
Para à nossa volta manter a paz
Ser o Bento Algarvio
E lutar com o coração
Com um soco muito temido
Impor respeito e acabar com a solidão
Que tal ser a Dina Dinamite?
Com um pontapé fenomenal
Para chutar tanta gente
Que nos provoca tanto mal
Ser como o Vasco Uva
E o resto da Selecção
Para aprender-mos todos juntos
A lutar com o coração
Ser o Quaresma,
O Deco ou o Ronaldo
Para tentar-mos com as fintas
Colocar na mesa caldo
Ou então sermos nós próprios
Lutar-mos pelo que queremos
Ganhar-mos as nossas batalhas
Vencer-mos o que tememos
Porque se formos verdadeiros
Seremos também campeões
Medalhas não receberemos
Nem muito menos milhões
Mas se algo fizermos
Por nós principalmente
Certamente venceremos
De uma forma convincente
Pum, pum, pum,
Ninguém sabe quem foi
Hoje morreu mais um
E parece que a ninguém dói
As balas apitam
Junto aos ouvidos
São elas que arbitram
Este jogo de destemidos
As pistolas gemem
Balas de dor.
As balas tecem
Em sua volta o terror.
As metralhadoras
Que gritam sem cessar.
Parecem Senhoras
Com um orgasmo milenar.
Granadas, taradas,
Que em conjunto querem matar
Parecem depravadas
Que em bacanais querem fornicar.
Aviões nos céus
A bombardear
Parecem véus
De noivas no altar
Agora quero saber
Porque preferem matar
Em vez de foder
Ou mesmo em vez de AMAR.
Hoje é o dia do Julgamento Final
E eu estou na primeira linha da acusação
Neste julgamento sem igual
Tenho garantida a pena, não o perdão.
Neste julgamento que enfrento
Sou julgado por tudo o que fiz
Tudo o que guardei cá dentro
Tudo que tornei infeliz.
Sei que fiz toda a catequese
Ajudei à missa até
Mas isso não consta da tese
Não consta da acusação de falta de fé
Da acusação só consta
O vinho de missa que bebi
As blasfémias que disse
E toda a estupidez que escrevi.
Hoje é o juízo final
Neste mundo que ergui
Do primeiro beijo ao ultimo bacanal
Na tese de acusação eu ouvi.
Sei que vivi sem regra
Sem me preocupar com o futuro
Sei que nunca aceitei uma nega
Antes preferia levar um murro
Sei que pai não fui bom
Filho ainda fui pior
Apelidado de mauzão
Em muito lado combati o Amor.
Interpus-me entre casais
Desfiz até casamentos
Mas ficará nos anais
Que vivi com esses tormentos
Vivi sempre no limite
Fui terrorista e namoradeiro
Ainda hoje tenho quem me imite
Por esse mundo inteiro
Neste julgamento
Onde só há acusação
A defesa não tive direito
Espero só a condenação
Sei todo o mal que fiz
Sei o que estão a pensar
Ele não sabe o que diz
Está-nos a tentar enganar.
Perdão eu não procuro
Se calhar eu não o mereço
Sempre me fiz passar por duro
Mas fui mole desde o começo.
Sempre me droguei,
Fumei e bebi
Mas nunca drogas tomei
Sempre foi com as mulheres que vi
As mulheres não têm culpa
Mas sempre foram a minha perdição
Sempre as adorei
Foram o meu “Amor de Perdição”
Os casamentos que desfiz
O culpado não fui eu
O único erro que fiz
Foi levar a mulher ao céu.
Nunca matei ninguém
Só roubei corações
Só alguém que nunca o tenha feito
É que me pode dar sermões
Este Julgamento Final
Tem os dados viciados
O juiz celestial
Nem vai ouvir os julgados.
Sei qual a sentença que vou ter
Qual será o meu final
Hoje sei que vou perder
Ninguém ganha neste tribunal
O meu Juízo Final
Chegou hoje, finalmente
Num dia de baixo astral
Para não ser tão deprimente
Não tive defesa
Só tive acusação
Não tive de certeza
Direito a perdão.
O julgamento que me fizeram
Foi muito manipulado
No final não tiveram
Um pingo de bondade
Parto a saber
Todo o mal que fiz
Todos os que magoei
Todos aos que neguei fazer feliz
Parto a saber
Que não importou como vivi
Porque só acusação acabei por ter
E atenuante não vi
Se voltar a viver
Vou viver ainda mais intensamente
Para o meu Juízo Final
Não voltar a ser tão deprimente.
Começo a pensar,
Que se calhar,
Tinham razão.
As minhas amantes,
Bastante tolerantes,
Nisso de que o mau sou eu.
Será que vivi,
E nunca admiti,
Na ilusão.
De que lhes dei muito prazer,
Mesmo por vezes a saber,
Que poderia não ser verdade.
Começo a acreditar,
Que a razão de me deixar,
Não era só do meu feitio
Que sei que é ruim,
Mas nunca ditou o fim
De nenhuma aventura.
Será que vivi,
E até a mim menti,
Numa ilusão?
E que sem língua e mão,
O resto da armação,
Nunca as cativou?
Tenho a sensação
Que fui uma desilusão
Para quem comigo dormiu.
E sei que sempre assim serei,
Se calhar porque nunca me importei
Verdadeiramente das suas necessidades.
Será que errei,
E só agora me precatei,
E já vou tarde demais?
Porque por mim já passaram,
E até me abandonaram,
Mulheres que eu amei.
Será que no fim
Vou ficar assim
Sozinho a ver o luar?
Ou será que o luar
Também me vai abandonar
Por eu não o entender?
Já sei que sou mau,
Talvez mesmo banal,
Nisto do sexo e do amor.
Diz-me tu, mulher,
Será que eu sei ver
O que necessitas?
Diz-me se fui bom ou mau,
Espectacular ou banal,
Tu que comigo dormiste.
Diz-me, preciso de saber,
Para tentar perceber
O porquê da minha solidão.
Diz-me, para eu ver
Se ainda te posso ter
E amar-te de todo o coração.
Porque sei que sexo não é tudo
Mas sem sexo a vida é como um mudo
Que nem sempre se consegue explicar.
Sei que amor é mais importante,
Mas sem sexo torna-se distante,
E o que queremos é proximidade.
Porque todos somos animais
Com necessidades carnais
E o sexo é a melhor.
Digo eu que nada sei,
De virgem ainda não passei,
Mas é o que vejo em revistas e jornais.
Diz-me de verdade,
Sem pita de maldade,
Se tenho “valor”
No mais puro acto de Amor.
. ADEUS
. PORTUGAL
. SOZINHO
. Beijo