A noite escura
O céu estrelado
A tristeza mais dura
Mora aqui ao lado
A cama enorme
No quarto metida
Um animal com fome
A cruzar a avenida
A porta do quarto
Um pouco entreaberta
O espaço habitado
Por uma alma desperta
A frieza no olhar
O corpo despido
A espera não se pode prolongar
Há um manjar para ser comido.
O mundo fecha-se
Sobre o quarto, inquieto,
Numa demonstração de frustração
Não de amor e afecto.
O animal já saciou
O desejo que o possuía
No colchão se prostrou
Enquanto a vitima se esvaía.
Não se esvaía em sangue
Que pouco lhe corre no corpo
Esvaía-se antes
Na falta de conforto.
Não houve um carinho
Um mimo ou um beijo
Não houve amor
Não houve desejo.
O animal sai
Poucas palavras ele diz
O animal lá vai
Agora com um ar feliz.
A presa que possuiu
No quarto prostrada ficou
Sonhou que fugiu
Mas perguntou-se “para onde vou?”
Regressa a casa satisfeito
O animal saciado
Que o seu maior defeito
É pensar que a usou sem pecado.
A noite não passa
O relógio não anda
A presa ressaca
E não vai a nenhuma banda.
O dia nasceu
O sol está a brilhar
E com ele morreu
Mais um conto de arrepiar.
. ADEUS
. PORTUGAL
. SOZINHO
. Beijo